Uema concede título de Doutor Honoris Causa à professora Mundinha


Por em 21 de novembro de 2014



Na data em que se comemora o Dia da Consciência Negra (20), aconteceu a cerimônia de outorga do título de Doutor Honoris Causa à escritora, pesquisadora e militante do movimento negro, Maria Raymunda Araújo, título concedido pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

A homenagem foi prestigiada por intelectuais, autoridades políticas, membros de movimentos sociais, familiares da pesquisadora, convidados, diretores de Centro, professores, funcionários e alunos da Uema.

A mesa de autoridades foi composta pelos membros do Conselho Universitário (Consun), presidido pelo reitor José Augusto Silva Oliveira, do qual fazem parte os pró-reitores de Administração, Walter Canales Sant’Ana; de Planejamento, Antônio Pereira e Silva; de Pesquisa e Pós-Graduação, Porfírio Candanedo Guerra; de Extensão e Assuntos Estudantis, Vânia Lourdes Martins Ferreira; e de Graduação, Maria Auxiliadora Gonçalves de Mesquita. Também participaram da mesa a coordenadora do Centro de Cultura Negra (CCN), Ana Amélia Bandeira; o presidente da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar; e o presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Euges Lima.

Maria Raymunda foi encaminhada à mesa de honra pelo diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), José Antônio Ribeiro de Carvalho, que fez o discurso inicial, apresentando a trajetória social, acadêmica e de militância da homenageada no movimento negro.

“A relevância de sua militância política no movimento negro a coloca como pioneira na realização do mapeamento dos quilombos e do trabalho como voluntária e autônoma, sobretudo no processo de investigação de temas para a história do negro no Maranhão. Há um reconhecimento de suas contribuições ao participar de projetos de pesquisa, seminários, simpósios e outros eventos em universidades, bem como em outras instituições relacionadas às questões sociais, políticas, culturais e históricas”, disse o professor José Antônio.

Ele acrescentou ainda que Mundinha já recebeu várias homenagens por instituições públicas, privadas e movimentos sociais, dentre as quais a do Bloco Akomabu em 2013 e da VIII Feira do Livro este ano. “Por tudo que foi exposto, justifica-se a concessão do título a esta mulher, e melhor ainda, que seja hoje, quando se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra”, concluiu.

Em seguida, a secretária de Órgãos Colegiados Superiores, Maria de Fátima Pinheiro, fez a leitura do texto normativo que trata sobre a outorga do título e colocou uma simarra azul sobre os ombros de Raymunda Araújo.  O reitor, por sua vez, fez a entrega do Certificado de Doutor Honoris Causa à professora.

Raymunda agradeceu ao professor José Antônio pelo relato de sua trajetória e ao Consun, por ter sido unânime ao conferir-lhe o título. Além disso, fez agradecimentos aos familiares e demais presentes na cerimônia.

“Confesso-lhes que jamais me imaginei como centro e motivo de uma solenidade igual a esta, singularizada por borlas, capelos e vestes talares. Em tudo quanto fiz e continuo fazendo, não tive e não tenho objetivo de granjear para mim homenagens porque sempre conferi ao meu trabalho o sentido de missão, como uma constante em minha vida”, declarou a pesquisadora. Agradeço a todos que vieram prestigiar este momento: meus familiares, amigos, membros do bloco Akomabu, militantes do movimento negro, Academia Maranhense e Vianense de Letras e aos meus companheiros de luta que já se foram. Mais uma vez, agradeço a Universidade Estadual do Maranhão”, finalizou.

O reitor José Augusto ressaltou que o título representa a escolha de uma individualidade ilustre identificada por sua personalidade e postura na vida, obra, conhecimento e sabedoria, além da contribuição para o bem comum.

“A trajetória de Maria Raymunda Araújo reflete as inquietações de uma pesquisadora que não se limitou ao tempo burocrático da vida acadêmica, nem se acomodou diante das dificuldades impostas no fazer ciência em nosso meio. Com persistência, continua seu trabalho missionário, catequético até na difusão e valorização das tradições culturais do povo maranhense”, exclamou.

Ele continuou dizendo: “As atividades exercidas por Mundinha, no decorrer de sua trajetória pessoal e profissional, e que lastrearam sua indicação, de tão honrosas, sozinhas já seriam suficientes para legitimar esta titulação. Seu currículo é pródigo, porém sucinto em registrar os muitos feitos e resultados nos campos político e social, que transcendem os limites do ente acadêmico e científico, e a posicionam como uma mulher universal, uma cidadã do mundo”.

Sobre Maria Raymunda Araújo (Mundinha)

Nasceu dia 8 de janeiro de 1943, em São Luís, sendo a segunda dos 14 filhos do gráfico/ferroviário, Eugênio Estanislau de Araújo e de Neuza Ribeiro Araújo. Cursou o Ginásio e Curso Normal no Instituto de Educação. Exerceu o magistério de 1964 a 1975. Graduou-se em Comunicação Social pelo convênio FESM/USP, ainda em 1975, quando foi admitida como técnica em Comunicação Social no quadro de servidores do Estado no Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais.

Na década de 1970, participou do LABORARTE e do Coral da Fundação Universidade do Maranhão, depois Universidade Federal do Maranhão (Ufma).

Em 1976, fez o levantamento das comunidades quilombolas rurais.

Em 1979, fundou o Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN), com os companheiros Silvia Black, Maria do Rosário Carvalho, Isidoro Cruz, Luizão, João Francisco e outros.

Foi presidente e vice-presidente do CCN, coordenou o Departamento de Informação e Divulgação da entidade, no período de 1980 a 1986, produzindo e editando textos, cartilhas e material de divulgação.

Na década de 1980, participou ativamente da mobilização dos negros em São Luís, organizando e coordenando seminários, cursos, encontros e demais eventos relacionados à história do negro e a questão racial no Brasil.

Coordenou o Projeto Mapeamento Cultural dos Povoados localizados na Área de Segurança do Centro de Lançamento de Alcântara, executado pelo convênio entre SECMA/IPHAN/MINC, e o levantamento de fontes documentais referentes à África e à escravidão negra (XVI a XIX) existentes em Arquivos Públicos Federais, estaduais e municipais, bibliotecas, museus, instituições de pesquisas ou documentação, cartórios, igrejas, entre outros, em São Luís e em outros 29 municípios maranhenses.

Foi monitora do Projeto “Guia de Fontes para História da África, da Escravidão Negra e do Negro na Sociedade Atual”, patrocinado pela UNESCO/Arquivo Nacional.

Presidiu o Grupo de Trabalho responsável pelas atribuições da Secretaria da Cultura relativa às comemorações do Centenário da Abolição da Escravatura em 1988 e, no mesmo ano, atuou como pesquisadora do Projeto “Levantamento Tipológico, Referências Imobiliárias e Informações Sócio Econômicas do Centro Histórico de São Luís”, executado pelo MINC/SECMA.

No Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (Sioge), foi chefe da Assessoria de 1989 a 1990 e, no ano seguinte, foi nomeada para dirigir o Arquivo Público do Estado, onde coordenou o Projeto de “Dinamização das Ações do Arquivo Público do Estado do Maranhão: o Plano Editorial do Arquivo Público”, e criou uma sala para abrigar o acervo de partituras dos 150 anos de música clássica maranhense, pesquisadas pelo padre João Mohana.

Foi uma das fundadoras do bloco afro Akomabu, em 1984, quando ainda estava na direção do CCN.

Obras publicadas por Mundica: “Breve Memória das Comunidades de Alcântara”, “A Invasão do Quilombo Limoeiro”, “Insurreição de Escravos em Viana”, “Documentos para a História da Balaiada”, “Em Busca de Dom Cosme Bento das Chagas – Negro Cosme-Tutor e Imperador da Liberdade” e “Descendência de Elesbão Lourenço de Araújo e Ana Raimunda de Sá Caldas (Donana)”.



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