ARTIGO: Saberes e Práticas da Extensão Universitária na Resposta ao Enfrentamento da COVID-19 no Brasil


Por em 1 de julho de 2020



OpiniãoNeste momento de crise, a extensão universitária mostra sua força na relação Universidade-Sociedade criando alternativas concretas com base no diálogo com as demandas da sociedade em conjunto com sua produção científica, tecnológica e cultural enraizada na realidade que estamos vivendo no país. A práxis extensionista, incorporando saberes e práticas da extensão, se torna necessária e oportuna fazendo a Universidade se ressignificar diante da sociedade para fora dos seus muros.

O Ministério da Educação (MEC), por meio do Comitê Operativo de Emergência, tem disponibilizado no Painel de Monitoramento das Instituições de Ensino as ações que estas vêm realizando no enfrentamento da epidemia por instituições federais no país. Dentre as ações publicizadas até 11 de maio de 2020, destaca-se o amplo apoio institucional na produção de material de consumo (álcool em gel, glicerinado e/ou álcool a 70%, materiais de limpeza/higiene, soluções sanitizantes) e equipamentos de proteção individual (EPI’s), como máscaras, aventais entre outros produtos. Acrescenta-se ainda a fabricação peças e/ou equipamentos hospitalares.

As Universidades têm ainda apoiado fortemente no combate à desinformação na produção de materiais educativos em meio à “infodemia” caracterizada, pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS), como o excesso de informações, algumas precisas e outras não, que tornam difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa. Dentre os serviços ofertados, inclui-se também o teleatendimento para orientação e esclarecimento à população.

Neste mesmo painel, observa-se que as instituições têm ainda disponibilizado sua infraestrutura no empréstimo de equipamentos, cessão de espaços institucionais e de veículos. A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão é reforçada no contexto da capacitação de profissionais, na realização de exames diagnósticos, desenvolvimento de vacinas e ainda no assessoramento às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Não deixando ainda de contribuir com as demandas assistenciais na distribuição de alimentos para grupos vulneráveis e no aconselhamento e/ou apoio psicológico na sua comunidade e fora dela.

A Política Nacional de Extensão Universitária, publicada pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras – FORPROEX, em 2012, nos coloca o desafio da superação de uma visão academicista da universidade, para que ela consiga sair de seus muros, integrando, interdisciplinarmente, os saberes das comunidades. Seus fundamentos devem se traduzir no compromisso com a sociedade de forma transformadora e articulada com outros setores, que neste momento se reafirmam na luta por uma sociedade com saúde e justiça social.

O FORPROEX tem colaborado nesse levantamento de iniciativas extensionistas por meio de sua rede, buscando socializar as ações desenvolvidas e em desenvolvimento pelas instituições públicas de educação superior no Brasil. Neste conjunto de atividades, conforme consulta em seu portal oficial em 12 de maio de 2020, corrobora-se a força institucional na resposta ao enfrentamento e na fabricação de itens de consumo já descritos anteriormente, com produção e doação com ampla participação de docentes, alunos e técnicos convocando uma força-tarefa para combater o desabastecimento em setores de maior necessidade destes materiais. Acrescenta-se ainda a produção de sabão barra/líquido e sabonetes artesanais, além de máscaras e kits de proteção para doação nas comunidades. Intensifica-se ainda a demanda por soluções para respiradores hospitalares em meio ao desabastecimento com a possibilidade de colapso do sistema de saúde e o desenvolvimento de pias portáteis e automatizadas para higiene de mãos em hospitais em parte decorrente do elevado acometimento de profissionais de setor saúde pela doença.

Tal levantamento ressalta a colaboração de estudantes na resposta em diferentes setores, com experiências relatadas inclusive em barreiras sanitárias em áreas de fronteira. Além disso, recém formados que tiveram critérios aprovados para formatura antecipada têm sido importante componente nessa resposta à crise sanitária. A infraestrutura das universidades tem sido colocada à disposição desde toda sua estrutura física ou de forma parcial no uso de laboratórios e/ou instalação de laboratórios para diagnóstico em hospitais; cessão de equipamentos para Secretarias Municipais e Estaduais, além de estrutura hospitalar na luta contra a COVID-19.

Nesse contexto, a interdisciplinaridade, interprofissionalidade e a indissociabilidade se intensificam ainda com iniciativas como a produção de material em libras para orientar comunidade surda sobre o novo coronavírus; kits educativos de higiene e prevenção de doenças para crianças; canais de acolhimento de idosos nesta fase de isolamento social; interlocução de produtores rurais com consumidores; disponibilização de áudios de histórias narradas durante a quarentena; disseminação de informações técnicas em canais de rádio; além do oferecimento de material educativo e cursos a distância para a comunidade em geral. Centrais de informação, telemedicina e “tele acolhimento social”, assim como a orientação psicológica também são contribuições importantes advindas desses espaços de formação.

Como resposta às necessidades atuais, diferentes setores da sociedade passam a demandar do meio acadêmico informações técnicas que vão desde aspectos básicos do vírus aos seus impactos econômicos na nossa sociedade. Neste conjunto de iniciativas, a criação de comitês institucionais para diálogo com a sociedade têm sido importantes neste processo, assim como ações de docentes e estudantes que perpassam por temas como orientações jurídicas para a comunidade sobre direitos e serviços nestes tempos de pandemia; planejamento financeiro familiar; orientação e assessoria para pequenos e micro empresários, inclusive na gestão de crise e busca de financiamento. Observa-se ainda o apoio em práticas pedagógicas aos pais em geral, na proposição de atividades para crianças que possam ser realizadas em casa.

A preocupação social é observada na intensificação da realização de campanhas com populações vulneráveis e ações como a instalação de estruturas para que pessoas em situação de rua possam lavar suas mãos, além de assistência para estudantes em vulnerabilidade social com insumos alimentícios. A extensão universitária se apresenta ainda na sua função social atuando na promoção do desenvolvimento cultural da sociedade, com ações, programas e projetos culturais transmitidos online por mídias sociais à comunidade.

A abertura de editais de fomento com recursos específicos para atividades de extensão têm sido um importante instrumento no apoio, estruturação e fortalecimento dessas ações. Esse conjunto de iniciativas descritas colocam a Universidade como um ator principal nesta luta, democratizando o conhecimento acadêmico e aproximando-a da sociedade, oferecendo alternativas por meio de ações concretas com base científica e perspectivas de superação da situação atual. As instituições de ensino superior (públicas e privadas) cumprem papel importante ao não se eximirem da responsabilidade de contribuir na resposta brasileira ao enfrentamento da COVID-19. O rol de possibilidades é vasto e, para as que ainda não se mobilizaram neste sentido, ainda há tempo para colaborar neste momento de crise sanitária.

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Por: David Soeiro Barbosa

Revista Práticas em Extensão​​ São Luís, v. 04, nº 01, 50-51, 2020.

http://ppg.revistas.uema.br/index.php/praticasemextesao/index



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