Novo tratamento da leishmaniose através de óleo de planta medicinal é estudado por pesquisadoras da UEMA


Por em 23 de julho de 2020



Sem título6A leishmaniose é uma doença endêmica que está espalhada em diversas partes do mundo. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS/2014), dois milhões de novos casos são registrados por ano e 350 milhões de pessoas estão expostas a contrair a doença. No Brasil, é considerada um problema de saúde pública, e, segundo dados do Ministério da Saúde, em 2016, foram registrados mais de 15 mil novos casos da doença no país. Causada por parasitos do gênero Leishmania, que invadem as células do sistema de defesa do indivíduo, chamadas de macrófagos, a leishmaniose é uma doença infecciosa e não contagiosa.

Existem dois tipos de leishmaniose: a tegumentar ou cutânea e a visceral ou calazar. A primeira é caracterizada por feridas na pele, podendo surgir lesões nas mucosas da boca e garganta; já a visceral é sistêmica e afeta vários órgãos internos, especialmente o fígado, o baço e a medula óssea. A forma cutânea é a mais comum, e, ainda, segundo dados do Ministério da Saúde, só em 2016 foram registrados 12.690 novos casos no país.

Sem título1No Maranhão foram 833 casos, o maior número do Nordeste. Além dos humanos, essa doença também acomete os cachorros e animais silvestres, como as raposas, por exemplo. Enquanto para o homem existe a possibilidade de cura, para os cães ainda não há essa garantia. Até pouco tempo, quando um cachorro era diagnosticado com leishmaniose, a recomendação era aplicar a eutanásia no animal. Hoje já existe um medicamento para o tratamento da leishmaniose canina aprovado pelos Ministérios da Agricultura e da Saúde desde 2016. Com o uso da medicação o cão pode ter uma cura clínica (extinção dos sintomas), porém não há uma cura parasitológica, ou seja, a leishmania não é eliminada, permanecendo em seu organismo.

Apesar da disponibilidade desse medicamento no mercado, o custo ainda é considerado muito alto e o tratamento não é acessível à grande parte da população. Pensando no bem-estar animal e em uma forma de diminuir os custos do tratamento, tornando-o mais acessível, a professora da Universidade Estadual do Maranhão, Ana Lucia Abreu Silva, do curso de Medicina Veterinária e do Mestrado em Ciência Animal, coordena a pesquisa intitulada “Avaliação da atividade antioxidante e aplicação do óleo essencial de Vanillosmopsis arbórea (Asteraceae) Baker na cicatrização de feridas cutâneas e no tratamento da leishmaniose tegumentar murina”.

Sem título“Quando começamos a estudar a leishmaniose, não tinha nenhuma esperança de tratamento para o animal; os de uso humano além de não serem recomendados devido aos efeitos colaterais e para não induzir resistência do parasito, tem uso proibido. Considerando a necessidade do tratamento do animal, iniciamos várias pesquisas no Laboratório de Anatomo Patologia que visem o desenvolvimento de uma droga ou sustância que seja acessível a toda a população e que leve à cura clínica e a parasitológica, com um menor número de efeitos colaterais”, explicou Ana Lúcia Abreu.

Assim, os objetivos da pesquisa foram os de avaliar a resposta imunológica e determinar a carga parasitária de camundongos, verificar a eficácia do óleo essencial de Vanillosmopsis arbórea no tratamento da leishmaniose e seu potencial cicatrizante e antioxidante. Os resultados no modelo em camundongo foram promissores, agora resta validar essa pesquisa em cães.

Com essa segunda parte do projeto, as pesquisadoras pretendem desenvolver experimentos farmacológicos voltados à atividade leishmanicida do óleo essencial e gerar informações sobre a potencialidade medicinal da espécie.

A espécie Vanillosmopsis arbórea é uma pequena árvore nativa da Chapada do Araripe, no estado do Ceará, que possui em seu caule um óleo essencial de grande valor econômico devido às suas propriedades anti-inflamatórias, proveniente de um dos seus principais constituintes químicos, o alfa-bisabolol. Estudos recentes têm demonstrado que esse óleo possui ainda atividades anti-irritante, antimicrobiana e baixa toxicidade.

Segundo a pesquisadora Renata Mondêgo de Oliveira, doutoranda em Biotecnologia pela Rede Nordeste de Bietecnologia (RENORBIO), tem crescido nos últimos anos o número de trabalhos que visa identificar e caracterizar extratos de plantas medicinais que possuem atividade lieshmanicida. No laboratório, diversas pesquisas com plantas medicinais já foram realizadas.

“Durante muitos anos o carro chefe do laboratório foi o noni (Morinda citrifolia), onde estudamos, por exemplo, o efeito da planta na remissão dos sinais clínicos da doença. Com o tempo, percebemos que valia a pena verificar também outros parâmetros, além dos sintomas em si, como a melhora do sistema imune. A partir daí começamos a trabalhar as duas coisas de forma conjunta, caso não conseguíssemos uma droga ou composto que atuasse no parasito em si, mas que atuasse ajudando na imunidade do animal”, destacou.

De acordo com as pesquisadoras, após os primeiros trabalhos em laboratório, foi possível constatar a eficiência do óleo essencial de Vanillosmopsis arbórea no tratamento da leishmaniose. Dentre os benefícios estão o efeito cicatrizante e o efeito imunomodulador (melhora da resposta imunológica).

Sem título4“A resposta de destruir o parasito, que a gente chama de leishmanicida, não foi alcançada, porém, teve um efeito no organismo de forma indireta, que foi a melhora da condição do macrofato. Os macrofatos são células do sistema imunológico que deveriam destruir o parasito, porém, esse efeito não ocorre com a leishmania. Nossas pesquisas estão mostrando que estamos melhorando a condição desses macrofatos e, então, o organismo passa a reconhecer aquilo como estranho e ataca”, finalizou a professora Ana Lúcia.

Por: Polyanna Bittencourt



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