UEMA Literatura apresenta o conto “E se…”


Por em 12 de dezembro de 2021



                                                             

O UEMA Literatura deste domingo traz o conto “E se…”, de autoria de Nudson Berredo, acadêmico do curso de Física.

E se…

Na época era tão normal ter a pessoa que eu gostava do meu lado que, eu não fazia ideia do quão difícil era ficar sem ela(e). Foi aos poucos, sabe. Acabou, e eu disse tchau ao invés de adeus. Eu não dei “O beijo”, só beijei. Quando ela me abraçou, não achei diferente do normal, não foi mais forte e nem mais fraco, foi só mais um abraço. Mas pensando agora foi o fim.

Foi o último, e não saber de nada até ali foi horrível. Parece que o fim chegou mais cedo lá e eu não sabia. Era a última vez que eu olhava o amor de um jeito normal, sem me dá conta da estranheza que seria sem ele. Doeu e foi começando a doer mais ainda aos poucos.

Eu desfrutava todos os dias da chata companhia dela(e), chegava ser banal a normalidade que era ser tão gostado por alguém que você amava. E agora acabou?! É engraçado como tudo faz falta agora. Sinto o tédio nas melhores baladas, os enjoou das pessoas mais incríveis que tento conhecer… e tenho saudade do pão dormindo e da voz roca e das chatas que aconteciam que aconteciam uma hora outra… Enfim, concordo em discorda que acabou. É triste, não saber que eu tinha muito, até perceber que não restou quase nada.

Foi tudo sem sentido, do começo ao fim. Bem que poderia ter sido um término pesado, com um pouco mais emoção. Ter sido, sei lá. Do jeito mais anormal possível. Ter sentido a pancada que era perder tudo de uma só vez. Ter sentido tanta raiva, que talvez ajudasse a esquecer. Queria me deparar com minhas roupas sendo jogadas pela janela, como qualquer crise clichê (convenhamos que eu ia rir bem mais agora), não tem graça, eu sei.

Bem que poderia ter gritado pra todo mundo ouvir que não me queria mais, ter feito uma cena como de novela e todos ficassem olhando assustado que daria até vergonha de alguém me perguntar alguma coisa depois. De um modo ajudaria muito agora. Foi bom. De uma hora pra outra acabou, foi como tirar cera quente do rosto – na hora dói muito, mas depois passa.

Me pergunto sobre os possíveis — e se… quando percebi já não era mais possível nada. Tudo foi chegando tão devagar, que não tinha mais nem como falar nada. Agora entendi o significado de perca de tempo. Tive que tomar as doses do um suco de beterraba no canudinho, sem poder fazer careta. Acho que foi orgulho sim. Me mantive duro e firme. Mas eu não sabia o quanto eu era apaixonado, até acabar tudo e acho que nem ela.

Dediquei um pequeno período do meu tempo para tentar te esquecer. No começo, eu esqueci, sabe. As lembranças foram desaparecendo e o que era a dois, foi se tornando só meu. Bom, eu tentei, não consegui. Tentei mais uma vez e nada ainda. Tentei de novo… e de tanto insistir acho que funcionou. Me olhei no espelho — Consegui?!

Por muito tempo falhei, respirava fundo e tudo que sentia no peito era sua falta, a sua ausência me sufocou, era uma falta física, mais uma presença mental latejante. Respirei fundo de novo e realmente ainda tragava muito de você em mim, me sufoquei bastante com sua falta.

Convenhamos que, quando uma pessoa se torna a abstinência de sensações boas na gente estar na hora de mandarmos ela ir embora. E percebi a um abismo enorme entre falar e conseguir fazer isso. Com os resfriados constantes que estava sentindo e com todas aquelas tosses e catarros diários que era ter você no meu peito, me deixou péssimo. Fiz uns rascunhos enormes na minha vida e percebi que ainda faltava retirar muitos – e se…, partes das suas da minha história.

Andei fazendo as contas e percebi que você precisou somar muito para deixar um estrago enorme na minha vida, mas tudo que você deixou a agora foi um vazio muito grande e estou tentando mobiliar isso com todas as coisas boas que too achando com o tempo.

Por incrível que pareça, uma hora funcionou. Ausência não prejudicou mais tanto. Deixei a raiva ir e botei o passado de lado. Abrir mão das desculpas e tentei focar mais em mim, no que me faz bem no momento, e de verdade, hoje não lamento muito tua perda. Por onde quer que você esteja, obrigado por tanto e lamento por sentir muito. Entretanto, percebi que as dúvidas e os possíveis finais diferentes, graças ao “e se…” sempre vão existir. Só aprendemos a conviver com ele.

 

 

 



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