UEMA Literatura deste domingo apresenta o poema “A grande ilha”, de autoria de Gabriela Lages Veloso, Graduada em Letras


Por em 8 de maio de 2022



Neste domingo, o UEMA Literatura apresenta a publicação: “A grande ilha”, poema de autoria de Gabriela Lages Veloso, Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão.

 

A grande ilha

 

Ao atravessar o exato ponto entre céu e mar,

a tênue linha do horizonte

envolta no ir e vir das ondas,

se pode avistar a grande ilha.

 

Assim, ao longe, sendo constantemente

ofuscado pelos raios solares,

não se consegue ter uma imagem nítida,

somente os esboços de uma cidade.

 

Pouco a pouco, a ilha se mostra.

Ao chegar em terra firme,

já com os pés calcados na areia,

se pode ter um vislumbre do lugar.

 

O vento sopra forte e a praia parece deserta,

há somente alguns transeuntes na calçada

e, vez por outra, algum automóvel.

 

Muitos prédios de luxo compõem a paisagem,

imponentes e frios,

indiferentes à natureza que os cerca,

ou o que dela restou.

 

Na faixa de areia, o esgoto segue o seu caminho para o mar

sempre em frente,

esse é o preço do progresso.

 

Mas o coração dessa cidade não se encontra aqui,

é preciso ir além, até as ruínas sobreviventes ao tempo.

Há uma beleza única nessas ruas de cantaria

e nesses antigos casarões, com seus azulejos partidos.

 

A cidade conta a sua história

em cada pedra, rosto e som.

 

Na ânsia de viver permanentemente no presente,

o passado está sendo apagado.

Muitas construções foram jogadas às traças.

Algumas foram demolidas,

Outras se tornaram estacionamentos,

pois as ruas estreitas já não comportam

tamanho fluxo de pessoas, insetos e veículos.

 

O esgoto segue seu caminho para o mar.

Aqui se pode vê-lo por toda a parte,

em poças nas praças,

escorrendo pelas ladeiras

e disputando as calçadas com os mendigos.

Há muitos deles por toda a parte,

mas ninguém parece notá-los,

são deixados ali, para depois,

mas esse tempo nunca chega.

 

Após atravessar a ponte

e deixar a cidade velha para trás,

surgem novas construções,

cada vez mais altas e luxuosas.

Curiosamente os construtores desses prédios

jamais poderão, ao menos, visitá-los.

Esse mundo não os comporta.

 

A grande ilha continua se expandindo,

ocupando novos espaços,

poluindo os olhos d´água remanescentes,

desmatando e destruindo a natureza,

repetindo os mesmos erros de seus exploradores.

 

Agora, o que nos resta ver nessa cidade

são as suas margens,

os lugares negligenciados por todos.



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